Oh não era nada disto que queria dizer…

Todos nós já dissemos o que não queríamos dizer, o que não pensávamos, nem tão pouco sentíamos.

Frases que são apenas espasmos vocais que saem disparados por terem ligação direta ao pensamento sem sequer passarem pela censura.

Mas que acontecem, acontecem.

Lembro-me de uma vez ir à escola do meu irmão para falar com a diretora da escola e disse à senhora que estava na portaria que o assunto tinha alguma urgência. Simpaticamente a senhora disse-me que as urgências eram no hospital. Respondi-lhe desconsolada, bom… esta é do IPO.

Depois da senhora ficar branca, vermelha, emudecida lá disse que ainda hoje eu ia conseguir ter a reunião.

Dizemos coisas sem pensar, papagueamos expressões que ouvimos alguém dizer, comunicamos com chavões que nada acrescentam.

E porque é que o fazemos? Porque quando sentimos medo, insegurança, nervosismo, quando queremos ferir o outro, fragilizá-lo, diminuí-lo, afrontá-lo, fazemo-lo da forma mais primitiva que conseguimos, e a forma mais primitiva é a agressividade.

E as crianças, também o fazem? Sim, claro! Vamos lembrar-nos que não há nada que ensine mais que o exemplo. Aqui há uns anos havia uma campanha de sensibilização que dizia: children see, children do!

Um dia o vosso filho pode dizer-vos: não gosto de ti! És má/mau!

Porquê?

  • pensem um segundo se por acaso disseram alguma vez ao vosso filho: se não comeres és uma menina/menino má/mau; se te portas mal não gosto de ti…
  • há um momento em que as crianças querem começar a experimentar autonomia, querem viver de acordo com a sua vontade, e a contrariedade e impossibilidade faz com que se sintam frustadas, injustiçadas, enraivecidas e por vezes essa sensações são transferidas para os pais.

Se estivermos a falar do primeira razão, trata-se apenas do efeito macaquinho de imitação. Em determinado momento ouviram que se algo não fosse como os pais queriam, então eles seriam meninos maus, por isso se os pais não fazem algo que eles querem são maus também. Podemos repensar na nossa forma de comunicação com as crianças, optar pelo uso da linguagem pela positiva, por exemplo: gosto tanto quanto comes tudo; fico tão orgulhosa/o quando te portas bem.

Se falarmos da segunda, perante a situação de contrariedade se a criança disser odeio-te, a única coisa que ela odeia naquele momento é o facto não poder fazer algo que queria muito. Mas as crianças sabem que se forem agressivas, os pais ficam sentidos, e para pais mais sensíveis à manipulação emocional, este pequeno truque de palavras pode ter um efeito poderoso. É preciso não levar essas palavras a peito, educar também é contrariar e provavelmente por de trás de cada odeio-te, há uma ação parental que objectiva o que é melhor para os filhos.

É necessário explicar à criança que é normal que ela se sinta assim, mas que existem regras, da mesma forma que existem outras estratégias de comunicar a frustação.

Com o tempo e orientação vão desenvolvendo outras maneiras de comunicar o que sentem.

E claro mais cedo ou mais tarde vão ouvi-los dizer: Oh foi sem querer!

Raquel Santos

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