Querido Pai Natal,
Já passei a idade de acreditar em ti, a idade de deixar de acreditar em ti e agora estou na idade que preciso desesperadamente de acreditar em ti.
Tenho um pedido especial e gostava que o fizesses chegar a todas as famílias. Queria pedir-te para que deixasses em cada casa, em vez dos presentes de desembrulhar, os presentes que ficam à vista e se guardam no coração.
Queria pedir-te para ofereceres a todas as crianças boas memórias. De todas as vezes que penso no Natal, são raras as que me lembro do que me ofereceram. Quando penso nos Natais da minha infância lembro-me:
– Das vezes que em conjunto com a minha avó batíamos na massa dos coscorões dentro de um alguidar. Do momento em que ficava a olhar por cima do balcão da cozinha enquanto se fritavam e de os passar em açúcar e canela, às ordens das suas indicações.
– Do carinho da minha mãe, ao esperar pacientemente que adormecêssemos enquanto contava mais uma vez a história do Pai Natal. Do mimo que nos dava e da forma como nos ensinou a amar.
– Do famoso Molotof da minha avó. Toda a gente lhe pedia a receita e todos os anos tinha de ser ela a fazer na mesma porque ninguém acertava com o ponto. Tinha truque e acho que esse ela nunca ensinou, só pelo prazer de poder cozinhar para nós
– Do ritual de fazer a árvore de natal, que o meu pai cumpria e nos ensinava. Primeiro abrir devagar, pôr as luzes, e colocar os enfeites, muitos deles pirosamente feitos por mim e pelo meu irmão.
– Da mousse de chocolate da minha tia. Todos queríamos aquela mousse e era o dia que sabíamos que podíamos comer sem os pais fiscalizarem a quantidade de açúcar que ingeríamos.
– Da vez que ao brincar às cabanas, eu e os meus primos, íamos destruindo o móvel da sala dos nossos avós. De como ficamos o resto do serão sossegados e cúmplices.
– De fazermos fila com a tigela para ser enchida de sopa durante a ceia.
– Das anedotas do Bocage que a minha avó contava, eram sempre as mesmas, mas eu ria-me como se fosse a primeira vez.
– Das histórias mirabolantes dos tios, que têm sempre as histórias mais divertidas, aquelas que os pais também têm mas devido ao seu estatuto não podem contar.
– Das confidências e histórias da família, do tio que casou cedo, da avó que era meio espanhola, da tia que viveu no estrangeiro.
– Dos cantares com sotaque alentejano, regados a pão e vinho, azeitonas e queijo.
– Dos almoços com a mesa posta, com duas mesas diferentes, onde se vão acrescentando lugares, onde as cadeiras são diferentes e uma mesa é mais alta que a outra.
– Da mesa dos miúdos, onde naquele bocadinho o mundo era nosso e os adultos não eram permitidos
É disto que me lembro! Não me lembro dos presentes. E tenho a certeza que se eles soubessem que o que eu me ia lembrar eram as memórias dos momentos que partilhamos pediam a devolução do que gastaram em prendas.
Sei que te peço muito, mas se conseguires faz com que durante a consoada, ninguém veja televisão, olhe para o telemóvel ou coisas semelhantes!
Tenho invariavelmente uma caneca de chocolate quente para os dois. Vem, temos muita conversa para pôr em dia!!
Feliz Natal a todos, cheio de motivos para criarem boas memórias!
Abraço
Raquel Santos, Psicóloga & Consultora
Bonitas memórias! Feliz Natal.
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Feliz Natal Fernanda, que seja uma época cheia de afectos!
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Santo e feliz Natal querida Raquel desejo igual para a familia 🎅🌲continua com mta Luz a guardar as memorias de amor ! Obrigada peka tua partilha . Beijinhos meus e da Sara
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Beatriz 🙂 obrigada pelas palavras doces que me enchem de alegria. Um beijo grande para ti e outro para a Sara e que seja uma noite cheia de amor!
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São essas mesmas memórias que eu tenho de quando era criança e o Natal era uma época contada a dedos como os tostões na altura e já devo meia duzia de Natais a mais. 🙂
Bem haja por me fazer reviver alguns desses momentos!
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São estes momentos que valem ouro! Que continue a viver a magia desta época ainda por muitos Natais! 🙂🙂
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Ao ler este post revivi os natais da minha infância 🙂
Não sei se é da zona (eu também sou alentejano) se é do tempo ou por algum outro motivo, mas lia e sorria ao relembrar a mesa das crianças comigo e com os meus primos, todos quase da mesma idade…
Realmente pouco me lembro das prendas, mas lembro bem das migas à espanhola que o meu Avô fazia tão bem, das azovias e cuscurões das minhas tias, do pudim de côco de uma vizinha que era mais do que família…
Tenho tantas saudades desses tempos…
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Helder, o seu comentário encheu-me de alegria. Tão bom ler as suas memórias e perceber que somos todos muito mais parecidos que diferentes. De facto o que conta é isto mesmo, os momentos que partilhamos! Desejo-lhe uma época natalícia com muitas partilhas e memórias novas! Abraço
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