Depois da minha caminhada gosto sempre de me sentar de frente para o mar. Costumo recostar-me num banco, tirar os óculos da cara e colocá-los em cima da cabeça a prender o cabelo, fecho os olhos e fico alguns momentos em silêncio. Hoje não foi excepção, com a pequena diferença do meu momento de introspecção ter sido interrompido por um senhor de camisola vermelha, boina azul escura e ar castiço, acompanhado por uma senhora com uma cara adorável que segurava uns óculos redondos e um sorriso bondoso.
– Posso fazer-lhe uma pergunta? (avançou o senhor)
– Claro! (abanei a cabeça)
– No seu conceito de vida humana…
(E eu os meus olhos abriram-se, pensava que ia começar uma conversa filosófica)
A senhora que o acompanhava abanava a cabeça e pedia que o senhor se calasse. Mas eu acho que sem querer o incentivei a continuar com a conversa. E o senhor continuou:
– O que acha que é uma vagina e catorze testículos num campo?
– Bem, para começar uma grande confusão (respondi da forma mais rápida que consegui)
– Não menina, na verdade é simples. É a branca de neve e os sete anões!
Eu soltei uma gargalhada, não pela piada em si, mas por todo aquele cenário. Pela espontaneidade do senhor e pela minha ingenuidade.
O senhor sai de cena depois do seu acto estar completo. E a senhora fica a pedir-me desculpa:
– Sabe é que ele leu isto numa revista e agora quer contar a toda a gente.
Disse à senhora que não se preocupasse e que tivessem um bom dia.
Voltei a ficar sozinha e observei se no caminho que o casal seguia, paravam e contavam a mais alguém a piada. Até onde a minha vista alcançou não o fizeram.
Comecei a perguntar-me sobre qual teria sido o motivo para que aquela conversa fosse precisamente comigo. Dei por mim a pensar em empatia, em parte porque ontem passei uma agradável a tarde a falar do assunto. Mas depois lembrei-me que ontem de manhã tinha lido uma piada e que a contei a três pessoas, mas que nenhuma delas achou graça.
Talvez tenha sido só isso, talvez eu precisasse que alguém me contasse uma piada da qual eu não me iria rir, ou talvez o senhor precisasse contar uma piada a quem sabe o que é alguém não achar piada ao que contamos.
Sem respostas ou certezas absolutas, deixei-me ficar mais uns instantes em silêncio, depois percebi que queria escrever sobre isto. Sobre a necessidade de falarmos com quem sabemos que nos vai entender.
Não é isso que procuramos todos? Ter alguém com quem conversar que nos oiça, entenda e não julgue!
q fofo o senhorzinho (rsrs)…. é a gente busca compreensão sem julgamentos, acredito que vc estava com uma “cara” amigável, por isso ele quis te contar a piada…rs…. bjão.
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fofo mesmo! é isso hannah todos queremos que nos oiçam sem julgamentos!
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Simmmm.
É engraçado como em determinadas alturas, achamos muita graça a algo, uma piadola daquelas, em que a gargalhada é sonante mas… só nós é que fazemos uma grande festa com a mesma.
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se estivesses lá tu, acho que também te contava a piada 🙂
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Achamos que é o desapego pelo julgamento alheio que ocorre com a idade.
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Concordo em absoluto, e no outro dia escrevi sobre isso -> https://ohfoisemquerer.wordpress.com/2018/01/25/sera-que-com-a-idade-ficamos-com-mau-feitio/
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Ele resolveu contar a piada para todo mundo e não se preocupar em ser considerado bobo ou idiota por conta disso.
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A melhor forma de viver a vida!
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Sim como nada acontece por acaso …empatia sim a vida tem destas “curiosidades” e todos orecisamos de atenção aonda que seka só ouvir uma “anedota” .. o ar bondoso de quem escuta tb conta ! Beijinhos ❤
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Nada mesmo, coincidência talvez seja um eufemismo! beijo enorme! 🙂
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Valeu a pena sua caminhada.
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Sem dúvida que valeu 🙂
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Olá!
Nomei o teu blog para o “The entertainer blogger award”!
https://descocado.wordpress.com/2018/02/23/the-entertainer-blogger-award/
Obrigada!
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Muito obrigada pela nomeação!
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Empatia… A capacidade de colocar-se na pele do outro…
Penso muito nisso, nos últimos anos. Cada vez mais. E cada vez mais penso que esse gesto tão pessoal, tão único, pois que a enpatia só funciona quando individualizada, pode transformar o mundo, por ser tão simples e lidar com algo tão básico: Como o outro se sente. Este teu post cativou-me, e agradeço ao castiço senhor que sentiu a necessidade de compartilhar uma piada ingênua, por ter culminado com este texto. Obrigado 🙂
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Obrigada Jauch pelo seu comentário. Sem dúvida que a empatia será uma das formas de preservarmos a humanidade. Um abraço!
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😊
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Um senhorzinho bem simpático e uma reflexão bem profunda. Uma pequena conversa com alguém que realmente nos entenda vale mais do que muitos anos de companhias alheias a nós. Obrigada por compartilhar, é bom descobrir que não estamos sós na busca por compreensão.
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Super simpático Sue. É isso mesmo, todos queremos conversar com quem nos entenda, ainda que não concorde com o que dizemos. Mas que dispunha do seu tempo para nos dar atenção. Abraço
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