Os primeiros passos na minha experiência profissional foram dados em centros de saúde e em colégios. Trabalhei sempre com crianças que os pais/cuidadores/professores apelidavam de complicadas, problemáticas, agressivas e rebeldes.
A minha abordagem é sempre conhecer a criança independentemente das crenças que os outros têm sobre ela.
Desde cedo percebi que em quase todas as crianças, não existia um problema da criança, nem tão pouco um problema da família. Existiam crenças, comportamentos, valores, angústias, ansiedades, medos que eram comuns a todos e que invariavelmente afectavam a dinâmica familiar.
Mais tarde percebi que queria estar envolvida sobretudo em projectos de prevenção de saúde mental e de parentalidade positiva, e foi quando criei o Vincul’arte, que se foca sobretudo na relação entre pais e filhos.
A vinculação foi amplamente estudada por Bowlby e Ainsworth. Sabe-se que é uma relação privilegiada que o bebé estabelece com os seus cuidadores. Relação esta que pode desenvolver-se de forma segura ou insegura consoante os cuidados que são prestados. Esta relação dita a forma como o bebé se vai relacionar, no futuro, com os seus pares.
Quando desenvolvi a tese de mestrado abordei o tema da Vinculação e da Depressão.
Os resultados revelaram a ausência de depressão em pessoas que tinham estabelecido na sua infância padrões de vinculação seguros.
Consideram-se dois tipos de vulnerabilidade à depressão: a dependência e o auto-criticismo.
Consegue relacionar-se pais inconsistentes, negligentes, hiperprotetores, dependentes, com rápidas variações de humor, ao desenvolvimento de depressões que se regem pela dependência. Na idade adulta estas crianças sempre que vivenciam uma perda ou uma rejeição, podem desenvolver uma depressão de dependência, em que os sentimentos de desamparo, tristeza e solidão são vividos tão intensamente que geram uma busca desesperada da substituição do que possa proporcionar amor.
Se falarmos de pais intrusivos, controladores e críticos, as crianças podem desenvolver uma vulnerabilidade auto-critica. Na fase adulta revelam uma auto desvalorização, culpabilização e a procura incessante de compensações que tragam sentimento de realização e de reconhecimento.
Como criar uma vinculação segura com o seu filho?
O melhor do mundo é ter pais afectuosos, cuidadosos, que nos ensinam limites construtivos e onde a crítica é positiva e ajuda a criança a crescer!
É por isso que considero a prevenção tão importante. O conhecimento permite-nos repensar em padrões e corrigir pequenos desvios que no futuro podem ter um impacto enorme.
Abraço
Raquel Santos, Psicóloga & Consultora