Sempre que pensamos em comportamentos, precisamos primeiro de pensar que existe uma espécie de linha dos 0 aos 100 que define se o comportamento é normal ou patológico (doença).
Por volta dos 3/4 anos com o desenvolvimento da linguagem a criança percebe que fica mais fácil comunicar, contar histórias, sejam estas verdade ou mentira. Estas mentiras permitem à criança exteriorizar o seu mundo imaginário e de alguma forma materializá-lo. Na maioria das vezes, para as crianças desta idade, não é perceptível o que é real ou fantasia, por isso a mentira nesta fase, é desprovida da intenção de enganar.
Só por volta dos 6/7 anos é que as crianças começam a adquirir valores morais e sociais que lhes permitem diferenciar o certo do errado, a verdade da mentira.
Lembram-se da história do pinóquio?!
Só podia ser menino de verdade, se fosse um bom menino, se aprendesse o que era certo e o que era errado. E como é que ele ia fazer isso? Através da consciência. O famoso grilo falante! A voz calma e baixinha que ninguém queria ouvir.
Mas o pinóquio acaba por mentir, é normal. Todos já mentimos, em circunstâncias maiores ou menores, em causa está sempre a frequência das mentiras, a sua função, a capacidade de admitir a mentira e o arrependimento.
Existem vários tipos de mentiras. As mentiras utilitárias, que quase todos usamos, são as que servem para nos proteger, para não desiludir o outro. É o tipo de mentira que a criança diz quando não quer admitir que partiu um prato.
Nas mentiras compensatórias em que a criança cria uma imagem de algo que é inatingível para si mas inventa uma história à volta dessa imagem e toma-a como verdadeira: desde inventar empregos diferentes para os pais, casas de férias, viagens,inventar uma nova família etc.
No extremo existe a mitomania, a mentira compulsiva, desde pequenas mentiras a mentiras elaboradas. A necessidade e a compulsão de mentir são constantes, de tal forma que a pessoa tem dificuldade em admitir em algum momento que mentiu, e se algum dia as suas mentiras forem descobertas é natural que não demonstre nenhum constrangimento.
Perante isto os pais devem reagir à mentira, se estivermos a falar da mentira compensatória, com naturalidade. Explicar a criança porque não se mente, fazer com que a criança admita a mentira, perceba que é errado e depois assunto encerrado.
A desvalorização ou o excesso de repreensão geralmente levam a criança a repetir comportamentos.
Abraço
Raquel Santos, Psicóloga & Consultora