Hoje gostava de ser tu…

De poder sofrer por ti, de me doer a mim o peito por me terem roubado a juventude e a alegria da descoberta das coisas boas e más. Gostava de ser eu a chorar a tristeza que sentes por não poderes viver a adrenalina dos 16 anos em pleno.

Para que pudesses sair à rua sem olhar para trás, sem te preocupares se está frio, se precisas de levar a máscara. Gostava de ser tu, para que saísses à rua com chuva e sentisses o prazer de teres o corpo encharcado.

Hoje gostava de ser tu…

Assim podias sair com a tua prancha para apanhar umas ondas e voltares à hora que quisesses.

Hoje gostava de ser tu…

Talvez assim pudesse compreender de onde vêm as tuas forças, talvez assim conseguisse perceber porque sorris tanto mesmo com esse maldito cancro às tuas costas.

Hoje gostava de ser tu…

Assim gritava com raiva o que não consegues dizer, chorava desesperadamente o que não consegues desesperar.

Hoje gostava de ser tu…

Para gostar de animais rastejantes, para contemplar a natureza e absorver a sabedoria, tal e qual como tu fazes com tanta tranquilidade que me irrita.

Hoje gostava de ser tu…

Agarrava na tua mágoa e guardava-a para mim, transformava as nuvens em sol, o frio em calor, e o mau em bom.

E depois, eu já podia ser eu e tu já podias ser tu.

Escrevi este texto há quase 9 anos, em desespero, com profunda raiva e tristeza, mas com uma desmesurável esperança.

Ao meu irmão, que tanto me ensinou e ensina com as suas duras batalhas, com a sua tamanha alegria, e a coragem de leão.

Um abraço sentido a todas as famílias que enfrentam esta e outras batalhas! Juntos vencerão tudo!

Abraço

Raquel Santos

Psicóloga | Consultora

instagram: @raquelfsantoss

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