As crianças e os adultos: as formas tão diferentes de explorar o que os rodeia.

Aqui há uns tempos, estava numa daquelas passadeiras rolantes, na tentativa de apressar o passo para chegar a horas onde queria estar.

Estou a meio da passadeira, quando entra um miúdo em sentido contrário, de forma propositada na passadeira. Entrou com uma velocidade considerável, depois abrandou e percebeu a resistência que a passadeira fazia ao seu movimento, voltou a acelerar para que conseguisse vencer a resistência, parou e deixou-se ser levado para trás e assim continuou em harmoniosa experiência a explorar todas as hipóteses que aquela passadeira lhe podia proporcionar.

Dias mais tarde, nessa mesma passadeira, estava eu quase a sair da mesma, quando uma senhora, vem em direcção à passadeira para entrar, em sentido contrário e quase que me abalroa. Segue com um ar contrariado e zangado. Estava notoriamente a ter dificuldades em andar na passadeira em sentido contrário, apesar de já se ter apercebido e de já ter sido avisada, segue o seu caminho como se ao voltar para trás, ou ao rir-se da situação ficasse demasiado frágil e exposta.

Nesse momento não pude de deixar de pensar na criança que dias antes tinha feito o mesmo, mas com leveza, com diversão e sentido de exploração. Não fazia mal estar ao contrário, na cabeça da criança assim até era mais divertido, assim dava para perceber novas sensações.

Mas nós adultos temos tendência a ficar cristalizados em pensamentos, crenças e comportamentos padronizados. Quando fazemos algo “ao contrário” nem sempre temos a habilidade das crianças para encontrar desafio e aprendizagem em tudo. Nós adultos, quando alguma coisa “está ao contrário” ficamos inflexíveis, rígidos, a tentar mostrar que temos razão, que “eu é que sei”, “está mal mas eu vou remar na direcção contrária”, “era o que mais faltava admitir que estou errado e ainda me divertir com isso”.

Por isso hoje, quero pedir-vos que observem a forma como as crianças exploram e conhecem o mundo. Vão lá resgatar ao vosso íntimo essa forma que também já foi vossa.

 

Abraço

 

Raquel Ferreira Santos, Psicóloga & Consultora

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