Entro no aeroporto e o coração aperta. Prega-me sempre esta partida, mesmo que saiba que vou em paz. Ao meu lado está o meu irmão com uma mochila às costas. Inquieto como habitual.
Dentro do avião, viajamos separados. Trocamos olhares uma vez. Ele pergunta-me se quero comer alguma coisa. Eu pergunto-lhe se precisa de moedas.
À medida que me aproximo da ilha Terceira fico impaciente. Sei que vou jantar com pessoas que não conheço e isso deixa-me sempre desconfortável. Sobretudo porque há dias que sinto que não sei como dizer o que penso.
Somos recebidos pelo André Leonardo, anfitrião do evento Faz Acontecer. São quase dois metros de homem, um olhar azul como o mar da sua ilha e uma generosidade que transborda o sorriso.
Chegamos ao hotel, trocamos de roupa e saímos para jantar. Assim que terminámos o jantar e cheguei de novo ao hotel disse ao meu irmão que tinha gostado muito de conhecer aquelas pessoas.
No dia seguinte comecei, de manhã, fui fazer uma caminhada junto à praia e depois segui para o Faz Acontecer.
Sentei-me na primeira fila, as luzes descem, ajeito-me na cadeira.
Gustavo Carona, médico voluntário. Encontrei na sua história o significado de Ser Humano. Chorei nos seus silêncios porque senti a responsabilidade que neles habitam.
Nuno Santos, tirei-lhe todos os rótulos de quem o conhece desde que nasceu. Emocionei-me quando percebi que afinal 3% de sobrevivência é uma benção.
Joana Amen, validou a minha crença de que a melhor educação que podemos dar às crianças são as experiências que lhes proporcionamos.
André Neves, fascínio ao ouvir cada uma das suas palavras com cunho de mudança e progressão. União entre criatividade, inspiração e verdade.
João Rocha, amor ao que se faz e fidelidade à sua essência são os ingredientes certos para o sucesso.
Cristina Amaro, transformar sonhos em realidade e ousar fazer o que ainda não foi feito.
Rui Fonseca, a força de quem sabe o que quer e para onde ir, sem medo de reconhecer o seu valor.
Jorge Coutinho, vibrei em gratidão profunda.
Carlos Coelho, ficava a ouvir as suas conexões e genialidade durante horas.
Jorge Braz, a importância de remarmos todos para o mesmo lado e de sabermos sempre de onde viemos.
No dia seguinte fizemos um passeio pela ilha, fui absorvida por cada bocado de terra por onde fomos passando. Não parei de pensar em cada uma das pessoas que me tocaram no dia anterior.
O André Leonardo e toda a equipa fizeram acontecer de uma forma inesquecível.
Chego a S.Miguel e sou recebida pelo Ricardo. Vem de sorriso aberto e traz consigo o ar de quem sabe aproveitar a vida.
A cidade está cheia. Recolho-me e fico sozinha. Respiro fundo, tomo um duche quente e deito-me na cama. Os lençóis são macios e perfumados. Respiro fundo três vezes, como faço sempre que quero memorizar um momento.
Amanheceu e o dia trouxe a certeza de que tudo está onde deve estar. Fui buscar o Nuno à Marina de Ponta Delgada. Almoçamos devagar, com amigos que se somaram à nossa vida há dois dias.
Visitámos a ilha com a velocidade que nos foi permitida e ao fim do dia fomos apresentar o nosso livro – Vida Acrescentada. Não faz diferença que o façamos para 1 ou 300 pessoas. Importa o que conseguimos transmitir. Se fizermos alguém sentir amor e esperança, o livro está ganho. Não tínhamos expectativas. Estiveram presentes 20 pessoas. Emocionei-me porque este livro tem-nos trazido pessoas e momentos bonitos.
Volto em breve Açores, assim que recuperar destas emoções.
Por vezes pergunto o que é esta ambição louca de sermos felizes, se tantas vezes deixamos escapar por entre dedos a subtileza da felicidade.
Se hoje fosse o meu último dia, estava tudo bem. A vida tem sido muito justa.
raquelsantos.org 